Excelentíssimo Senhor Presidente.
Escrevo-te esta carta de punho e caneta nas mãos para que bem mais que minhas letras tu possas ler também minhas lágrimas. Durante todo o período eleitoral eu senti medo e temor por meu futuro, hoje dia 29 de outubro de 2018 eu sinto pavor por não poder prever o que será de mim daqui para frente; e todos esses sentimentos são culpa sua!
Por muitas vezes durante as eleições eu discuti, opinei, critiquei, gritei e escrevi #Elenão onde eu podia ter vez e voz e ser vista, por medo dos seus discursos de ódio e repressão. Não quero viver a ditadura que meus pais viveram em 1964, não quero temer sair na rua, não quero morrer de fome; e todos os meus medos eu vejo bater a minha porta, pois sendo mulher, mãe, nordestina, pobre e futura professora não poderia ser uma representante melhor de tudo aquilo que você odeia. E isso me assusta!
Talvez por medo e insegurança do meu futuro resolvi escrever esta carta como uma última tentativa de garantir meus direitos e minha democracia. Sabe, eu não o odeio por ter vencido, não o odeio por ser quem você é e não o odeio por seus discursos; não sou petista ou qualquer outro partido politico; não odeio seus eleitores e nem creio que sejam todos burros e ignorantes; eu sou apenas uma brasileira que levantou uma bandeira e a defendeu com fé e coragem por acreditar que o Brasil merecia bem mais do que o Senhor estava a nos oferecer.
Peço de coração que o Senhor sendo agora o Presidente de uma nação, lute como tal, sem repressão, sem preconceitos e sem retirar direitos conquistados a sangue. Sei que uma carta ou um texto não mudará sua visão da vida, mas a vida humana merece respeito e amor. Sei que esta carta em questão não mudará sua opinião sobre nós mulheres, mas nós merecemos respeito e dignidade, merecemos trabalhar e receber pelo trabalho que fazemos, entenda que não somos menos merecidas porque engravidamos, pelo contrário engravidar e dar a luz requer uma força sem tamanho e uma coragem sem medidas. Sei que o meu texto não fará você rever seu ponto de vista sobre os nordestinos, mas nós somos apenas um povo sofrido que teme voltar a ser esquecido.
Que ao assumir a cadeira presidencial no dia primeiro de janeiro de 2019 você entenda que agora defende e representa um povo e não mais somente o seu ponto de vista, que possamos deixar nossos medos nas gavetas e que a esperança de que pode dar certo deixe de ser algo impossível de existir. Que a constituição prevaleça e que a democracia continue sendo o que é, sem interpelação, sem reajustes e sem repressão, porque quando começa a repressão de pensamentos e ideias, começa uma ditadura.
Que nós que nos colocamos tão veemente contra suas opiniões, possamos ser surpreendidos positivamente por um bom governo e que não possamos usar de frases como "eu disse" ou "eu avisei". E para finalizar quero apenas que saiba que continuarei observando, opinando e criticando o que houver de ser criticado, continuarei lutando pelos direitos já adquiridos, e que não medirei esforços para lutar contra aquilo que não estiver fazendo bem ao meu país. Se meus medos se concretizarem eu continuarei sendo resistência, pois sendo mulher, mãe, pobre e nordestina resistir é o que sei fazer de melhor!
Fique em paz!
Ana Leticia.